Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém, fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão; outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta; outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem; outra parte linguagem. Traduzir uma parte na outra parte; – que é uma questão de vida ou morte – será arte?
Ferreira Gullar