"Sem"
Uma noite sem pálpebras se estanha
de um silêncio sem margens. Sua veste
é tecida de teias sem aranha
na cor sem cor de mármore e cipreste.
Dedo sem unha sobre os lábios, passa.
Leva uma flor sem pétalas no seio.
E sem um gesto do seu braço, abraça
alguém — e vai sem nada, como veio.
Guilherme de Almeida, 1982