" Ele foi andando sem assoviar, pois já não era menino. As janelas amanheciam para o trabalho, a escola, o futuro. Ele, porém, anoitecia. Foi andando e dizendo: 'Amanhã, vida nova. Praia, ginástica, almoço na hora certa. Isto não é vida. Amanhã, vida nova.' E de repente, como um personagem de William Faulkner, refletiu que já estava no amanhã. 'Hoje é amanhã.' E a vida nova? (...) Ele sorriu para a claridade caramelada, como fizera tantas vezes, durante tantos anos, e disse: 'Não adianta. Não é possÃvel. Eu gosto da noite barulhenta, escura, lenta.' E de certo modo ficou contente com a falta de sentido das coisas."
José Carlos Oliveira.