Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar - 'Traduzir-se'