Auto-Retrato
Do tudo sou o nada.
Da flor, o espinho.
Na guerra sou a paz
Da amizade sou o carinho
Da riqueza sou pobreza
Escrava e capataz.
Na dúvida sou a certeza.
Das folhas sou o outono.
Da primavera o beija-flor.
No escuro, sou lápis de cor.
Da mãe, sou o desgosto,
Dos filhos, sou o oposto.
E do marido, o recosto.
Do corpo sou o cansaço.
Da saudade sou o abraço.
Do fogo, sou paixão.
Da paixão, sou amor.
Do amor, a alegria.
Também sei ser dor,
Desalento e saudade.
E da saudade, a solidão.
Da fantasia sou a verdade,
E da verdade a ilusão.
Do equilÃbrio sou o destoar.
Na noite silenciosa
Sou a canção de ninar
Da mãe amorosa.
Mudo de personalidade,